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A Substituição Tributária (ST) no âmbito do ICMS costuma gerar muitas dúvidas para empresas de diferentes portes e segmentos. Afinal, por que em alguns produtos e operações existe um “substituto tributário” que recolhe o imposto antecipadamente? Quem é o responsável pelo pagamento? E se alguém falhar no recolhimento, quais são as consequências para quem adquiriu a mercadoria? Além disso, existe a possibilidade de recuperar valores pagos a maior? Se sim, como fazer isso de forma segura?
Este artigo pretende explicar de maneira simples como o ICMS ST funciona, quais suas premissas legais e o que você, empresário ou profissional da área, pode fazer para evitar problemas e, ao mesmo tempo, pagar apenas o valor justo do imposto devido.
1. O que é ICMS ST?
A Substituição Tributária é um regime em que a responsabilidade pelo recolhimento do ICMS é transferida de vários contribuintes para um único contribuinte (o “substituto”). Em outras palavras, ao invés de cada empresa da cadeia comercial recolher o ICMS sobre suas vendas, a legislação pode determinar que uma empresa em etapa anterior da cadeia (por exemplo, um fabricante ou importador) já calcule e pague antecipadamente o ICMS devido em operações posteriores, até o consumidor final.
Por que isso existe? Para simplificar a fiscalização e reduzir a sonegação, pois o Fisco concentra a cobrança em poucos pontos da cadeia de comercialização (os substitutos), ao invés de fiscalizar inúmeros estabelecimentos.
Amparo Legal
- Lei Complementar nº 87/1996 (Lei Kandir): Prevê as regras gerais do ICMS.
- Convênios e Protocolos ICMS (ex.: Convênio ICMS 52/93): Definem a lista de produtos sujeitos ao regime de ST, as margens de valor agregado (MVA) e outras questões específicas por região.
2. Quais as Premissas para Haver a ST?
Normalmente, as legislações estaduais (ou nacionais, via convênios) indicam quais produtos ou serviços devem ser submetidos ao ICMS ST. Entre os critérios mais comuns para instituir a ST, podemos destacar:
- Produtos de ampla comercialização ou com alta rotatividade (combustíveis, bebidas, cigarros, autopeças, eletrodomésticos, etc.).
- Dificuldade de fiscalização em todas as etapas de circulação do produto.
- Margem de Valor Agregado (MVA) pré-definida, de forma que se consiga estimar a base de cálculo do imposto a ser recolhido.
Quando um produto está enquadrado nessas listas, o governo determina quem será o “responsável tributário”, isto é, quem deverá reter e recolher o ICMS em nome dos demais.
3. Quem é o Responsável pelo Pagamento no Regime ST?
A lei geralmente define que o fabricante, importador ou atacadista (dependendo do caso) será o substituto tributário. É essa empresa que:
- Calcula o valor do ICMS de toda a cadeia subsequente (até o consumidor).
- Recolhe esse valor antecipadamente aos cofres estaduais.
- Emite a nota fiscal com o destaque do ICMS ST para as empresas compradoras posteriores.
Já a empresa compradora (chamada de “substituída”) não precisa recolher o ICMS nas saídas desses produtos (ou recolhe apenas complementarmente em alguns casos específicos), pois teoricamente ele já foi pago na fonte pelo substituto.
4. O que Acontece se o Substituto não Recolher o ICMS?
Imagine o cenário: você, varejista, compra produtos de um fornecedor que deveria recolher o ICMS ST, mas não paga esse imposto. Nesse caso, surge a dúvida: “Eu serei responsabilizado pelo débito?”
- Na maioria das vezes, a responsabilidade primária é do substituto tributário, pois a lei o designou para recolher.
- Contudo, alguns estados estabelecem que, se o substituto não recolher o imposto, o substituído (quem comprou) pode vir a ser cobrado. Isso ocorre em situações que a legislação local impõe “solidariedade” no recolhimento, obrigando todos os envolvidos a responderem pelo débito.
- Para evitar surpresas, é fundamental verificar a regularidade fiscal do seu fornecedor e exigir a nota fiscal corretamente preenchida, com destaque do ICMS ST (quando devido).
5. É Possível Recuperar este Imposto?
Sim, existem situações em que o ICMS ST pode ter sido recolhido a maior e, portanto, a empresa tem direito de pedir a restituição ou realizar compensação. Alguns exemplos:
- Venda por um valor menor do que aquele que foi calculado na MVA (Margem de Valor Agregado). Se o preço efetivo de venda foi inferior ao estimado, pode ter havido pagamento além do devido.
- Devolução de mercadoria: Se a operação foi desfeita e o ICMS ST já havia sido recolhido antecipadamente, cabe um procedimento de estorno ou compensação.
- Excesso de Base de Cálculo: Quando o estado define uma MVA incorreta ou há erro no cálculo que gere pagamento maior.
A Lei Complementar nº 87/1996 (art. 10, inciso II) prevê a possibilidade de restituição do valor pago em casos de ST indevida ou recolhida a maior.
6. Qual a Forma Mais Viável de Fazer a Recuperação?
A forma de recuperação pode variar conforme a legislação de cada estado, mas geralmente há dois caminhos principais:
- Compensação em Conta Gráfica (Escrituração): A empresa substituta ou substituída lança o crédito em seus livros fiscais (como a Escrituração Fiscal Digital – EFD ICMS/IPI), compensando-o com débitos futuros de ICMS.
- Pedido de Ressarcimento (Processo Administrativo): A empresa formaliza um requerimento à Secretaria de Fazenda do Estado demonstrando que recolheu ICMS ST a maior. Se aprovado, o ressarcimento pode vir na forma de dinheiro (depósito) ou autorização para compensação.
Para saber qual o melhor procedimento, é preciso analisar cuidadosamente a legislação estadual e a documentação fiscal envolvida. Grande parte dos estados possui regras de restituição específicas e sistemas online para o controle desses créditos (por exemplo, SARE – Sistema de Apuração e Ressarcimento de Substituição Tributária).
7. Principais Referências Normativas
- Lei Complementar nº 87/1996 (Lei Kandir): Regras gerais do ICMS.
- Convênio ICMS 52/1993: Estabelece normas aplicáveis à Substituição Tributária em diversos produtos.
- Legislação Estadual: Cada estado possui seu Regulamento do ICMS (RICMS) e Decretos que disciplinam a ST e a forma de ressarcimento.
8. Conclusão
O ICMS ST é um regime que facilita a fiscalização, mas pode gerar confusões na hora de emitir notas fiscais, recolher o imposto e buscar eventuais restituições ou compensações quando há pagamento a maior. Se você atua no comércio ou indústria de produtos sujeitos à Substituição Tributária, é essencial entender quem deve pagar, como pagar, e como garantir que não haja bitributação ou valores perdidos ao longo do processo.
A IAW Contabiliza possui uma equipe especializada em analisar as operações, identificar se há valores pagos a maior e orientá-lo no processo de recuperação desses tributos de forma segura e embasada na legislação. Assim, você regulariza sua situação e ainda pode reaver recursos que fazem diferença no seu fluxo de caixa.
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